Uma pequena Historia VW 1600, o
"Zé do Caixão"
Em 1968,
a Volkswagen chegava ao impressionante número de 600 mil veículos fabricados no
Brasil e em função do grande aumento de produção em suas linhas, teve de abrir
mais 2000 vagas para novos funcionários.
A Volks continuava vendendo como nunca, tendo o Fusca como carro chefe e
oferecendo também o utilitário Kombi, juntamente com o esportivo Karmann-Ghia.
Seus carros tinham mecânica robusta, de fácil manutenção, grande economia de
combustível e preços extremamente competitivos, atrativos irresistíveis ao
consumidor. Foi aí que o então presidente da Willys Overland do Brasil, Willian
Max Pearce, começou a idealizar uma “fórmula” para deter o avanço da Volks,
notadamente do Fusca, no setor de carros econômicos. Temos então o nascimento
do projeto "E" (de econômico), que consistia na idéia de se lançar um
veículo econômico e de baixo custo de fabricação, resultando num concorrente à
altura do até então imbatível Fusca.
Infelizmente, estudos realizados na época tiveram resultados nada otimistas:
Dificilmente o Willys “E” conseguiria ser fabricado por um custo menor ou pelos
menos similar ao do Fusca. Deste modo, a Willys mudou de estratégia,
rebatizando o projeto “E” para projeto “M” (de médio), associando-se à Renault
para o desenvolvimento do modelo. No mesmo ano, no entanto, a Willys foi
comprada pela Ford, mas esta não abandonou o projeto “M”, continuando a
investir na idéia, que posteriormente daria origem ao Corcel !
E onde
entra o VW 1600 4 portas nessa história toda ?
Bem, o VW
1600 quatro portas era exatamente uma resposta ao Projeto “M” da Willys
(posteriormente Ford-Willys) e curiosamente chegou a ser chamado de “Brasília”,
nada tendo a ver com a "verdadeira" Brasília, lançada pela Volks
somente em 1973.
A Volks, ainda em 1968, preparava o lançamento da Variant, que inicialmente
chegou a ter a sua frente copiada do VW 1600, e lançou a versão conversível do
Karmann-Ghia. Sendo assim, estreou em dezembro de 1968, no “VI Salão do
Automóvel” em São Paulo, o VW 1600 Sedan 4 Portas, que foi lançado
juntamente com seu grande rival: o Corcel, da Ford-Willys (depois, apenas
Ford).
Como curiosidade, temos no mesmo evento o lançamento do Chevrolet Opala e do
Ford Galaxie
Os
motivos que levaram a Volkswagen a interromper definitivamente a fabricação do
VW 1600 4 portas são até hoje bastante controversos. Nos dois anos em que ficou
no mercado(1969 e 1970, tendo sido lançado em dezembro de 1968), chegaram a ser
produzidas 24475 unidades do modelo, que manteve um bom número de vendas até o
término definitivo de sua fabricação, ainda em 1970. Costuma-se considerar, que
um dos fatores determinantes da retirada de linha do VW 1600, teria sido a
grande aceitação deste modelo entre os taxistas, o que teria feito com que o
seu \\"status\\" junto ao consumidor em geral, diminuísse, e em
consequência disso, as suas vendas, apesar de boas, não estariam satisfazendo
plenamente às espectativas da Volkswagen. O fato é que a preferência do
consumidor na época era bem diferente da de hoje em dia, sendo que os
automóveis de duas portas eram os de maior aceitação, e não os de quatro
portas. É daí que se explica a predominância do modelo junto aos taxistas.
Talvez o VW 1600 4 portas fosse “o carro certo no momento errado”...A Volks,
ainda com esperanças de melhorar a vendagem do VW 1600 4 portas, chegou a
produzir uma versão de luxo, com diversos melhoramentos em relação à versão
inicial, mas que não serviu para melhorar substancialmente as vendas do modelo.
Outro aspecto interessante na curta carreira do “4 portas”, foi o apelido que
ele ganhou, em função do formato bastante parecido de suas partes dianteira e
traseira, lembrando para alguns uma caixa... : “Zé do Caixão”... O apelido, “Zé
do Caixão”, talvez tenha sido também inspirado no cultuado cineasta brasileiro
de terror, José Mojica Marins, que alguns meses antes do lançamento do VW 1600,
tinha lançado o filme \\"O estranho mundo de Zé do Caixão\\", em
1968. Coincidência ou não, o apelido pegou.
Pegou de tal maneira que o carro passou a ser mais conhecido por seu apelido do
que por seu verdadeiro nome: VW 1600, que talvez soasse para muitos com pouca
personalidade.Tal denominação, “Zé do Caixão”, ainda que dada com simpatia por
muitos, acabou tendo um sentido predominantemente pejorativo, e contribuiu para
abalar ainda mais o prestígio do modelo junto ao mercado consumidor.
Muitos também chamavam o VW 1600 4 portas de \\"Fusca 4 portas\\",
pois \\"Volkswagen\\" também era o nome \\"oficial\\" do
Fusca, que só veio a ser oficialmente chamado de Fusca a partir de 1984, após
já ser durante muitos anos conhecido muito mais pelo seu apelido do que pelo
seu nome oficial. Nos EUA, ocorre algo semelhante, pois o mesmo Volkswagen,
chamado aqui no Brasil de Fusca, é carinhosamente chamado de
file://"beetle//"(besouro).
Mas, sem dúvida, o fato mais crítico ocorrido na meteórica passagem do VW 1600
pelo mercado automobilístico brasileiro, se deu no dia 19 de Dezembro de 1970.
Um incêndio de grandes proporções atingiu a fábrica da Volks, destruindo cerca
de 30% de seu maquinário, e este só foi completamente debelado aproximadamente
12 horas após seu início.
Lamentavelmente, logo após este incidente, a Volkswagen do Brasil interrompeu
definitivamente a produção do VW 1600 Sedan 4 portas, mas continuou a produzir
normalmente os demais modelos oferecidos na época, tais como o Fusca e Kombi.A
Vokswagen até que se recuperou bem do incêndio, conseguindo em Agosto de 1971,
o reestabelecimento total da marca de aproximadamente 1200 automóveis fabricados
ao dia. Uma recuperação considerada em tempo recorde.
Infelizmente porém, para o VW 1600 4 portas, já era tarde demais... , o fim
definitivo havia chegado... , restando hoje para nós uma das mais interessantes
histórias sobre um dos muitos automóveis já fabricados no Brasil.
Texto : João A. Siciliano
A história do "Zé do Caixão" levou o integrante do Clube do Carro Antigo de FW JOÃO LUIS JUNG a restaurar esta antiguidade. Veja as fotos da restauração:
A paixão por fuscas João Luis herdou do seu pai, o seu Neldo (in memoriam) que, sempre que podia, o acompanhava nos encontros.
Hoje essa paixão está sendo passada para o João Pedro, filho do João Luis, que acompanhou a restauração do Zé do Caixão.